sábado, 17 de março de 2018

Ivan Junqueira, "Elogio de Plínio"


Nem um dia sem uma linha,
como se impunha o jovem Plínio
naquela Roma em que morria
o último estilo latino,
o da eloqüência bem nutrida
de que os escribas se serviam
em seus pedestres panegíricos.
Mas nem tanto. A lição de Plínio,
que se segue às de Horácio e Ovídio,
cujo estro se embebe em Virgílio,
já não é mais a do elogio,
e sim a do áspero exercício
da língua, do ritmo, da rima,
de tudo a que não renunciam
a fúria e o som da poesia.
Nem um dia sem uma linha,
sem uma dor, uma alegria,
sem um pensamento erradio
daquela vã filosofia
que se move em nós, escondida,
e faz da existência esse enigma
que é não termos princípio ou fim
e até mesmo nenhum sentido.

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