quinta-feira, 22 de junho de 2017

Mário de Sá-Carneiro, "Último soneto"


Que rosas fugitivas foste ali:
Requeriam-te os tapetes — e vieste ...
— Se me dói hoje o bem que me fizeste,
É justo, porque muito te devi.

Em que seda de afagos me envolvi
Quando entraste, nas tardes que apareceste ­
Como fui de perca! quando me deste
Tua boca a beijar, que remordi ...

Pensei que fosse o meu o teu cansaço
Que seria entre nós um longo abraço
O tédio que, tão esbelta, te curvava ...

E fugiste ... Que importa? Se deixaste
A lembrança violeta que animaste,
Onde a minha saudade a Cor se trava?

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