quarta-feira, 28 de junho de 2017

Antonio Cicero, "Cidade"


                                                        Para Arthur Nestrovsky 

Lembro que o futuro era uma cidade 
nebulosa da qual eu esperava 
tudo e que, sendo uma cidade, nada 
esperava de ninguém. Ah, cidade 
sonhada de avenidas macadâmicas, 
turbas febris e prédios de granito: 
o que era que eu perdera e que, perdido 
e em cacos, buscava nas tuas áridas 
calçadas e esquinas? Hoje constato 
que a névoa do futuro do passado 
adensa-se dia a dia. De longe 
teus contornos são mais arredondados. 
Tu, cidade irreal, aos poucos somes: 
já anseio te rever e já te escondes. 


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